+

A imagem da mulher trabalhadora retratada pela arte comparada com o modelo de trabalho feminino apregoado pelo movimento de higiene mental

Acadêmica: Débora Kelly Herculano Machado Garcia

Orientadora: Maria Lucia Boarini

Ano: 2011

Resumo:O objetivo do presente estudo é comparar o modelo de trabalho feminino defendido pelo movimento de higiene mental com a imagem da mulher trabalhadora expressada pelas pinturas artísticas produzidas no Brasil ou por pintores brasileiros na primeira metade do século XX. Numa conjuntura de redefinição da sociedade, regulada pela nova ordem social, pautada no trabalho assalariado, analisa-se como o trabalho feminino foi evidenciado pelo discurso do movimento de higiene mental e pelas pinturas artísticas. Esta pesquisa orienta-se, metodologicamente, numa concepção histórica, que concebe o homem como ser social e, portanto, toda produção humana como dependente do modo de vida material e das relações sociais. Analisam-se documentos produzidos na primeira metade do século XX, tendo como fonte primária e principal: os Archivos Brasileiros de Hygiene Mental (ABHM), periódicos publicados pela Liga Brasileira de Hygiene Mental (LBHM), bem como outros documentos produzidos por médicos higienistas na época e as pinturas artísticas que retrataram a mulher e o trabalho feminino, realizadas no Brasil ou por pintores brasileiros no mesmo período. Visando refletir sobre o trabalho feminino, são confrontados documentos produzidos pelos higienistas com pinturas artísticas da época, de modo a compreender as convergências e divergências entre as telas dos pintores brasileiros e o ideário da higiene mental. Ao optar por estabelecer um diálogo sobre o trabalho feminino entre a corrente médico-higienista que priorizava a higiene mental e as pinturas artísticas, parte-se do pressuposto de que é possível, por meio da arte, aproximar-se de fatos, características e problemas da época. Foi possível discorrer sobre o ideário da higiene mental em sintonia com o testemunho da arte. São apresentadas telas que, certamente, ilustram e exemplificam o modelo de trabalho feminino prescrito pelos higienistas, o qual, em geral, deveria se restringir aos afazeres domésticos e aos cuidados com os filhos. No entanto, apresentamos ainda pinturas artísticas que retratam o trabalho feminino realizado fora do lar, nas fábricas, na agricultura, como vendedoras, prostitutas, empregadas domésticas, entre outros. Estas imagens servem de contraponto, por testemunharem não somente a participação feminina no trabalho, assim como as reais e difíceis condições de vida de grande parte da população, que impossibilitavam muitas mulheres, sobretudo aquelas de extração social de baixo poder aquisitivo, seguir os preceitos higienistas e valores ditados em relação ao papel da mulher na sociedade. É importante ressaltar que tais preceitos foram direcionados a todas as mulheres, independente de classe social, e por esta razão, muitas vezes, o ideário da higiene mental foi omisso a respeito das difíceis condições de vida do povo brasileiro da época, que, no entanto, não passaram despercebidas de alguns pintores. A arte, enquanto modo de expressão e produção do homem que traz as marcas de seu tempo, neste estudo, apresenta sinais e evidências de que a mulher idealizada pelos higienistas era um privilégio de classe. A mulher “rainha do lar” distinguia-se da mulher “trabalhadora”, em decorrência do modo como a sociedade estava e está organizada e, portanto, das desiguais condições sociais de vida da população.

 

Clique aqui para abrir o arquivo