Infância e saúde mental: reflexões sobre a dinâmica de trabalho de um CAPSi
Acadêmica: Marina Maria Beltrame
Orientadora: Maria Lucia Boarini
Ano: 2010
Resumo: O objetivo deste estudo é avaliar a dinâmica de trabalho de um Centro de Atenção Psicossocial – CAPSi. Para tanto, tomamos como objeto de estudo a demanda escolar acolhida pelo CAPSi José Pazelo, localizado no município de Apucarana-PR. Embasando-nos nas políticas públicas em saúde mental voltadas ao público infanto-juvenil, investigamos sob quais formas a dinâmica de trabalho se processa neste dispositivo, a saber: se o trabalho é realizado em equipe, ou não; se há articulação entre o CAPSi e os demais serviços existentes tanto na área da saúde quanto em outros setores e como se caracterizam o atendimento e o tratamento ofertados aos usuários no intuito de realizar a assistência. Adotamos como recurso metodológico a pesquisa de campo, a qual foi desenvolvida em três fases subsequentes. A primeira, consistiu em um levantamento estatístico acerca de todos os prontuários dos usuários acolhidos pelo CAPSi José Pazelo entre os meses de julho e dezembro de 2008. Na segunda, realizamos o estudo de seis casos de crianças que envolviam queixas escolares, escolhidos dentre o total de prontuários investigados na fase anterior. E a terceira, correspondeu às entrevistas realizadas com cinco funcionários do dispositivo. Os resultados alcançados apontam para uma medicalização dos conflitos existentes no contexto escolar. Desconsiderando que as dificuldades escolares são produzidas, sobretudo, nas e pelas relações estabelecidas na escola, os problemas apresentados pelo aluno são entendidos, muitas vezes, como transtornos mentais, levando os envolvidos no processo educativo a buscarem no medicamento a redenção para os problemas de ordem educacional. E o CAPSi se insere, nesse contexto, como a via para a obtenção do diagnóstico e, por conseguinte, da medicação. Sem perder de vista os empreendimentos desenvolvidos por higienistas no início do século XX e as inegáveis contribuições deste movimento na consolidação de intervenções na área da saúde mental infantil, concluímos que, apesar de vivermos condições históricas diferentes daquelas, na qual, inclusive, a concepção de infância já não é mais a mesma, o ideário que regia aquelas ações permanece presente nos encaminhamentos atuais tanto no âmbito escolar como na saúde. Tal panorama encontra respaldo na própria dinâmica de trabalho desenvolvida pelo CAPSi José Pazelo, cuja investigação revelou um funcionamento distante do que é preconizado pela Política Nacional de Saúde Mental, tornando-o análogo a um ambulatório. Frente às dificuldades em desenvolver um trabalho coletivo tanto internamente, entre os profissionais do CAPSi, quanto externamente, integrado com os diversos dispositivos que compõem a rede comunitária de cuidados, as decisões pertinentes ao serviço são, em geral, capitaneadas pelo médico e sem questionamentos por parte dos demais integrantes da equipe. Destarte, o atendimento ambulatorial não apenas se mantém enquanto modelo prioritário no campo da saúde mental como se configura em uma prática naturalizada.