Pequenos operários: a outra infância
Acadêmico: Luiz Gustavo Giati
Orientadora: Maria Lucia Boarini
Ano: 2023
Resumo: Para além de um consenso universal de infância que se caracteriza, social e psicologicamente, como uma etapa feliz, saudável, ativa e que pode se desenvolver desde o início da vida, muitas crianças, vítimas de diversas formas de violência, principalmente, expostas ao “trabalho” infantil, desafiam essa lógica. Na sociedade ocidental, a infância tem sido tema de várias discussões na agenda política e científica das nações, destacando-se o trabalho fabril como uma das atividades em que a mão-de-obra infantil foi fartamente utilizada. Este estudo tem como objetivo analisar a visão higienista de proteção à infância e como as normas e propostas higienizadoras concebiam a prática do trabalho infantil. O recorte de tempo escolhido se localiza entre o fim do século XIX e início do século XX, num período de significativas mudanças na sociedade brasileira, especialmente na década de 1920 cuja cruzada higienista fez das crianças um dos principais escopos de sua ofensiva. Para alcançar o objetivo em pauta, priorizamos a utilização dos Anais do Primeiro Congresso de Proteção à Infância de 1922, como fonte primária, recorrendo também à legislação, a obras literárias e artísticas, bem como à imprensa comum da época. A análise dos Anais, documentos e bibliografia, permitiram-nos situar as questões em relação à infância como uma categoria elaborada sob os preceitos da organização social e que a relação entre criança e trabalho não é uma questão contemporânea, mas uma prática comum ao longo da história. Frases como “é melhor uma criança trabalhando do que na rua” perdem de vista o processo histórico e as contradições neste processo implicadas e assim revelam concepções naturalista da sociedade vigente, contribuiu e ainda continuam exercendo influências para que a erradicação do “trabalho” infantil esteja longe de ser atingida. Os questionamentos sobre a infância nos revelam bem mais do que o ideal de uma fase importante para o crescimento dos pequenos. Ter o desenvolvimento das potencialidades humanas nem sempre se faz presente na vida de muitas crianças expostas ao “trabalho” infantil. Neste caso, o “trabalho” tem o sentido de exploração, pois este só assume um sentido estruturante, com potencial emancipador para a humanidade, quando são superadas as condições de desumanização do trabalho assalariado. Dessa forma, consideramos que as crianças não só afetam como também são as mais afetadas pela sociedade ampliando o entendimento da existência de infâncias.
Palavras-chave: Infância. Higiene mental. Trabalho infantil.