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A pedagogia de Manoel Bomfim: uma proposta higienista na educação

Acadêmica: Roselania Francisconi Borges

Orientadora: Maria Lucia Boarini

Ano: 2006

Resumo: O objetivo deste estudo é a análise da obra Lições de pedagogia escrita e publicada em 1915 por Manoel Bomfim (1868-1932), médico de formação, membro da Liga Brasileira ,de Higiene Mental (LBHM) e um dos idealizadores da educação no Brasil, especialmente no que se refere a educação escolar. Este trabalho insere-se na proposta do GEPHE – Grupo de Estudos e Pesquisas sobre o Higienismo e o Eugenismo “que tem como premissa básica a análise dos encaminhamentos educacionais pautados nos pressupostos do higienismo e da eugenia como processo de desenvolvimento da sociedade capitalista”. Tais movimentos, bastante difundidos entre a intelectualidade brasileira, em especial a classe médica, foram estabelecendo uma pedagogia médico-higiênica pautada nas premissas básicas de que o acesso à higiene física e, principalmente, a um ideal de higiene moral, através da educação, seria a resposta para lidar com as exigências e as controvérsias de uma nova ordem social que se consolidava no Brasil na transição do século XIX para o século XX: a ordem social burguesa. Recorremos a obra Lições de Pedagogia por reconhecê-la como fonte histórica, através da qual buscamos identificar os pressupostos higienistas contidos nas concepções educacionais de Manoel Bomfim, estabelecendo correlações e contradições presentes em sua pedagogia em relação aos ideais educacionais dominantes na época. Nestes termos, buscamos a articulação entre suas concepções educacionais e o cenário educacional, bem como sócio-político e econômico do Brasil, nas primeiras décadas do século XX. Cenário este que se mostrava bastante conturbado em função do acirramento dos conflitos e antagonismos de classes existente pelas diferenças nas relações sociais de trabalho estabelecidas, principalmente, no período de transição do Império para a República, ou seja, na passagem de uma política econômica global pautada no trabalho escravo em uma sociedade de economia basicamente agrícola, para uma política assentada na mão-de-obra livre e na industrialização. Nesse sentido, os higienistas, ao recorrerem às diferenças individuais para encaminharem questões de ordem coletiva – como se fossem leis de natureza – e ao proporem explicações pautadas em questões individuais e não em condições sociais, naturalizaram as desigualdades sociais constituindo-se como álibi para justificar tais desigualdades, escamoteando as contradições sociais inerentes à sociedade de classes. Desse modo, encontraram forte aceitação no ideário dessa nova sociedade ao defenderem o controle social e a manutenção da ordem estabelecida. Sendo assim, compreendemos que os adeptos do movimento higienista – entre eles Manoel Bomfim - ao delinearem ações de prevenção e promoção da higiene mental/moral para a infância – baseadas em um modelo ideal – através de intervenções na família e na escola, nos legaram exemplares lições de como encaminhamentos sustentados pelo saber das ciências naturais, sem as necessárias mediações sociais, podem favorecer ações que o tempo transcorrido pode demonstrar tratar-se de equívocos ou apresentarem sinais de incorreção.

 

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